Bairro do Poço da Panela

Residência de José Mariano e Dona Olegária

No bairro do Poço da Panela se encontra a casa que, durante parte do século XIX, foi residência dos abolicionistas José Mariano Carneiro da Cunha e Olegária da Gama Carneiro da Cunha. Nesse local foram realizadas reuniões e encontros de abolicionistas membros de associações como Clube do Cupim, entre outras. Além disso, era também um local de refúgio para escravos fugidos, que precisavam de abrigo e, muitas vezes, transporte para sair da província. Por causa da proximidade da casa com o rio Capibaribe, foram orquestradas fugas por meio de embarcações que deveriam levar os escravos, principalmente, para a província do Ceará.

Formado pela Faculdade de Direito do Recife e um personagem ativo no cenário político pernambucano, José Mariano se tornou um conhecido abolicionista recifense. Colega de classe e amigo de Joaquim Nabuco, José Mariano também participou de associações abolicionistas, com destaque para o Clube do Cupim, fundado por João Ramos em 1884. O processo de fundação do Clube não contou com a participação de Mariano, que entrou na associação posteriormente, recebendo o codinome de “Espírito Santo”, em razão da necessidade de manter secreto os nomes dos membros da sociedade. É válido salientar que todo membro efetivo recebia um nome de alguma província do país (SALES, 1990, p. 108).

José Mariano fundou, em 1872, o jornal A Província, que contribuiu na divulgação de suas ideias. No entanto, ele se destacou, principalmente, pelos seus discursos e sua postura radical pelo fim da escravidão, o que tornou sua trajetória marcada pela sua luta e sua popularidade entre os recifenses. Segundo Gilberto Freyre, “José Mariano chegou a ser quase um ídolo para a gente do povo do Recife. Como nenhum político, soube confraternizar com essa gente.” (FREYRE,1967, p. 46). Pela sua simpatia e seu trabalho, Mariano se tornou muito estimado na cidade. Ao longo de sua história nunca perdeu uma eleição, sendo escolhido para deputado e prefeito do Recife, mas não tomou posse em razão de sua defesa da monarquia, que o levou a prisão no início da República. Faleceu em 1912 e o seu enterro foi um grande acontecimento em Recife, devido ao número de participantes.

Assim como seu marido, Dona Olegária também se destacou como abolicionista. Conhecida por sua generosidade, se tornou uma figura popular recebendo os nomes de “mãe dos pobres” e “mãe do povo”. Participou de protestos e de associações, como o Ave Libertas. Essa sociedade, de mulheres abolicionistas, foi criada em setembro de 1884 e chegou a contar com 66 mulheres como sócias efetivas. Sabe-se também que com menos de um ano de atuação, a associação já havia alforriado mais de 300 escravos (SALES, 1990, p. 111).

A Ave Libertas contribuiu com as atividades do Clube do Cupim, que utilizou, como foi apontado, a residência do Poço da Panela como esconderijo e local para transporte de escravos. Sendo essas atividades organizadas por Dona Olegária. Conforme Semira Adler Vainsencher, essa abolicionista: “[…] apoiava os escravos fugidos, roubados das senzalas, ou alforriados, e os ajudava a fugir em barcaças, que, no Poço da Panela, desciam o rio Capibaribe, camuflados com capim e ramagens, para passar defronte da Chefatura da Polícia, na Rua da Aurora” (VAINSENCHER, 2008). Dona Olegária teve uma morte prematura e muito sentida pelos recifenses.

Por essas atividades, ao tratar da história do abolicionismo em Pernambuco é fundamental apontar os nomes de José Mariano e Dona Olegária, personagens que atuaram através da política, de associações abolicionistas e de atividades ilegais, como o transporte de escravos fugitivos para o Ceará, com o intuito de por fim a escravidão, e a sua residência como um lugar marcante para essa história principalmente em razão das atividades realizadas com o intuito de libertar os escravos.


Referências:

CASTILHO, Celso; COWLING, Camillia. Bancando a liberdade, popularizando a política: abolicionismo e fundos locais de emancipação na década de 1880 no Brasil. Afro-Ásia, Salvador, n. 47, p. 161-197, 2013.

FREYRE, Gilberto. O Recife, sim! Recife, não. São Paulo: Edições Arquimedes, 1967

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

ROCHA, Leduar de Assis. Poço da Panela, uma retrospectiva. Arq. Recife, 2, jan/dez, 1977.

SALES, Maria Letícia Xavier. O Clube do Cupim e a memória pernambucana. Revista do Arquivo Público, Recife, v. 40, n. 43, p. 101-115, out. 1990.

SANTOS, Maria Emília Vasconcelos. O 25 de março de 1884 e a luta pela libertação dos escravos em Pernambuco. Clio (Recife), v. 33.2, p. 158-180, 2015.

VAINSENCHER, Semira Adler. José Mariano. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php&gt;. Acesso em: 25 jan. 2018.

________________________. Olegária Mariano (abolicionista). Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php&gt;. Acesso em: 25 jan. 2018.